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Shows: Sónar 2012 em São Paulo

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Se você acha que o rock ainda não morreu enquanto fenômeno cultural, o Sónar é um daqueles eventos em que o rock é periodicamente jurado de morte. Oito anos após a primeira vez em que veio a São Paulo, o festival de “música avançada” nascido em Barcelona foi a maior concentração de DJs e bases programadas por cada metro quadrado que o Pavilhão do Anhembi já deve ter recebido.

O Mogwai foi a única atração de peso a trazer guitarras como destaque sonoro, mas chegarei neles ainda. No primeiro dia, uma sexta 11 de maio, cheguei ao palco principal (SonarClub) já na expectativa pelo Kraftwerk, mas acabei topando com o DJ set do incensado James Blake, mas o britânico não parecia muito seguro do que estava fazendo: mostrou uma sequência de canções meio esquizofrênica que nem convidava à pista de dança nem convencia como proposta.

Depois veio o Kraftwerk e suas novas projeções em 3D, até então uma exclusividade de uma exposição do museu MoMa em homenagem aos alemães mais importantes da eletrônica. A brincadeira foi acompanhada pelo público com óculos descartáveis e funcionou muito bem nas quatro primeiras músicas, “The Robots”, “Spacelab”, “Metropolis” e “Man Machine”. Mas depois a coisa ficou um pouco previsível para quem já viu outros shows do grupo (meu caso, em 2004 no Tim Festival).

Além disso, a qualidade das animações estavam aquém do esperado, parecendo coisa feita em um computador Basic dos anos 80. Tudo bem que o pseudofuturismo do Kraftwerk (tão desafado que hoje é cada vez mais retrô) é conceitual e parte do charme da banda, mas o deja vu foi inevitável e enfraqueceu a apresentação.

A programação espremida do Sónar fez comigo duas vítimas nesse dia. Por causa do Kraftwerk, perdi ao mesmo tempo os rappers Criolo e o DOOM, dois shows bem elogiados por relatos que li e ouvi. Me restou ver um pouco do quarteto sueco Little Dragon no SonarHall, mas talvez pelo cansaço ou pela atmosfera eu não gostei muito do que ouvi. Foram umas três ou quatro músicas nada memoráveis, mas a apresentação parecia animada tanto por parte da banda quanto dos fãs nas primeiras fileiras. Aguardarei uma nova vinda deles, de preferência com mais e melhores discos na bagagem (já têm três).

Porém a sexta ainda mostraria o seu melhor no Chromeo, que de cara foi o melhor show do ano até ali. Foi uma hora de hit atrás de hit, sendo a maioria do “Business Casual”, o disco mais recente (2010): “Hot Mess”, “Don’t Trn Your Lights On”, “Night By Night” (que encerrou a apresentação) e houve tempo até para uma graça com o riff de “Money For Nothing”. Talkbox, pernas de manequim, jogo de neon, percussão… juro que achei que eram cinco caras em vez de dois nos primeiros minutos do show. Danceteria pura. Satisfeito, fui embora dali sem ver Emicida e o combo Marky + Patife.

Já no sábado, dia 12, a programação estava melhor recheada mas não menos mal distribuída. Perdi Silva e Gang do Eletro por terem sido cedo demais e a primeira atração que peguei de relance foi o minimalismo de Alva Noto & Ryuichi Sakamoto: pianinho de tecla em tecla, silêncios, ruidinhos. Parecia interessante mas pouco atraente para um festival deste porte. Acabei passando, fui dar uma volta e depois retornei ao mesmo teatro para pegar metade de M. Takara, outro show sem grandes contribuições.

E então, o Mogwai. Cinco caras, a maioria já careca ou a caminho da calvície, empunhando duas guitarras em uma música, três na outra, e tocando alto. Bem alto. Mas perceba que nunca perdiam o arranjo de vista e felizmente a equalização deu conta do recado, pois foram raras as microfonias fora de hora. Com um setlist de 10 músicas – quatro do disco mais novo, “Hardcore Will Never Die, But You Will” – o quinteto escocês contrariou um pouco a fama de sisudo e frequentemente soltava discretos sorrisos de satisfação com o show e conversou algumas vezes com o público paulistano. Foi Pink Floyd com inflência do Helmet; um transe de melodia e barulho que para mim abocanhou o primeiro lugar de shows gringos em 2012 até o momento – lembra que falei isso do Chromeo há umas linhas? Pois é.

E ainda teria mais. Corri para o palco maior, mas já era tarde; Cee-lo Green já tinha ido embora, bem como o Flying Lotus em outor palco. Era hora da dupla de Niterói The Twelves, que mandou bem até com uns remixes envenenados do Kraftwerk, mas a hora ali era do Justice. O duo francês chegou chegando com sua icônica cruz iluminada, house pesadão e hits de primeira: abriram com “Genesis”, “D.A.N.C.E” lá pelo meio de campo e a apoteótica “We Are Your Friends” no final. E tome parede de amps com neon, estrobo, globo de luz… Pude concluir que o Chromeo foi mais música, mas o Justice foi mais espetáculo com E maiúsculo. Ambos incríveis.

Após uns cinco minutos finais de Four Tet (estava legal como conceito, mas pouco dançante – um mal de quase todos os DJs deste Sónar), até cogitei o Squarepusher no fim da noite mas não dava mais. Cheguei ao final cansado, mas contente e com a impressão de que o melhor show do Sónar foi um quase anacrônico show com guitarras. Porém, é evidente que o grande “tchananan” do evento foram os beats. Se é o futuro? É na verdade o presente, mas no futuro eu gostaria muito de olhar essas atrações – as que vi e que não vi – para sentir melhor seus reais defeitos e qualidades. Por ora, já valeram para 2012.

Mais vídeos do Sonar 2012 aqui.


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